Segundo dados da ABStartup, fecharemos o ano de 2019 com um total de 15.000 Startups no Brasil. Muitas necessitam de profissionais de desenvolvimento devido ao seu negócio envolver tecnologia, algumas delas dependem de achar profissionais que consigam se alinhar aos negócios da empresa para até mesmo poder avançar e competir no mercado. São atualmente 5.000 postos de trabalho em aberto em nosso ecossistema.
Neste post, eu tentarei fazer uma rápida análise da situação em que enfrentamos agora:
Como chegamos até aqui?
Eu fiz segundo grau técnico em processamento de dados em 1996 em uma escola técnica especializada em informática, e em 1998 fiz graduação em tecnologia de processamento de dados. Uma característica era que as turmas eram lotadas. Muita gente querendo se adequar a profissão do futuro. Apenas 1/4 da turma original realmente se formou na faculdade, muitos viram que não era sua área de interesse ou vocação e partiam para outros cursos. Mesmo assim, começamos a formar uma leva de bons profissionais, mas infelizmente o Mercado de Trabalho não absorveu na mesma velocidade, isso jogou a média salarial para baixo, muitas vezes não sendo atraentes para os universitários investir nesta carreira. Outras profissões estavam mais atraentes.
Isso gerou uma baixa procura para profissões de TI e uma dificuldade muito grande de alguns centros de ensino em fechar uma quantidade mínima de alunos para formar turmas.
Então começamos a ter uma formação tímida de profissionais no mercado vindo das universidades, e outros entravam no mercado de trabalho através de certificações em tecnologias específicas, ou aprendiam em livros ou via internet de forma autodidata para atender as demandas. Na maioria são apaixonados pela profissão.
Não faltaram avisos que iriamos enfrentar uma crise de falta de profissionais qualificados em um futuro próximo…
2012, o mundo não acabou e o Brasil entrou em uma fase otimista de Startups:
Eu me lembro que em 2011/2012 nós vivíamos uma fase de namoro com o conceito Startup. Havia o programa Startup Brasil, Startup Rio, Seed Minas… Muitos programas pipocando, aceleradoras aparecendo, investimento… O nascente ecossistema estava dando seus primeiros passos e estava feliz.
Um dos eventos mais marcantes que eu ia, se chamava (e ainda se chama): Circuito Startup, promovido pelo Tiago Asevedo, em um restaurante na Zona Sul do Rio. Eram tantos empreendedores, que enchia dois andares do restaurante. Uma energia incrível! Empreendedores, Programadores, Designers e outros profissionais estavam ali para conversar sobre suas ideias, buscar sócios e fazer networking. Então era mais simples você encontrar um desenvolvedor que abraçasse uma ideia para construir um protótipo ou participar de alguma seletiva para receber um investimento-anjo ou coisa do tipo.
Eu percebia que o tipo de empreendedor desta época, na sua grande maioria, eram profissionais de áreas não tecnológicas, que tinham seus empregos e viam na possibilidade de criar uma Startup para se desse certo, sair de seus empregos e se sustentar com o projeto.
Muitas Startups nasceram destes eventos, algumas cresceram e outras não duraram tanto. A taxa de insucesso de Startups é de 75%, segundo o SEBRAE.
2019, o futuro chegou, e agora?
Uma coisa que pude perceber, é que os empreendedores e o ecossistema amadureceu muito nos últimos 8 anos. Antes, os eventos Startups que eram lotados de pessoas em busca de um pote de ouro no final do arco-íris (Alguns conseguiram realmente) e com ideias pouco formadas , hoje já vemos empreendedores mais pé no chão, com projetos mais concretos e buscando conhecimento através de programas de pré-aceleração, treinamentos e etc.
A grande dor das Startups que estão iniciando e que já estão operando é procurar profissionais de tecnologia para ocupar vagas em suas estruturas. Quando a gente fala de Dev, não tem como tratar este profissional de forma genérica. As tecnologias de desenvolvimento são uma grande sopa de letrinhas, aonde o seu sócio-técnico ou especialista deve pescar as quais mais se adequam ao seu negócio e combina-las para trazer resultados: Chatbots, IAs, Apps Híbridos, Apps Nativos, PHP, Python, Laravel, Fullstack, Backend, Frontend, Java, Cloud e por aí vai a perder de vista… É um mix de tecnologias que estão em constante evolução e que desafia os desenvolvedores a cada versão.
Hoje em dia as empresas estão buscando profissionais que além de escrever códigos e construir sistemas, tenham a capacidade de se auto-gerenciar, com habilidades de liderança e superar obstáculos. As empresas não querem cumpridores de horário, mas talentos que surpreendam e tenham um papel decisivo no andamento do negócio.
Aonde acho um sócio-desenvolvedor para começar minha Startup?
Esta é a pergunta com a resposta premiada. A menos que você tenha um amigo ou um amigo de um amigo com o perfil e que você possa convencê-lo a apostar suas fichas na sua ideia, será muito difícil você conseguir convencer a um desenvolvedor a trocar a possibilidade de trabalhar em Startups ou Empresas já consolidadas, com um bom salário e todos os mimos de hoje em dia, pela chance de um dia vir ganhar dinheiro como “sócio” no projeto de um pequeno percentual. O custo-oportunidade é elevadíssimo para o Desenvolvedor Experiente.
Então é raríssimo hoje, você conseguir encontrar um desenvolvedor com as habilidades necessárias para se tornar sócio de um projeto Startup. Muitos optam em desenvolver suas próprias ideias, aonde ele terá o controle majoritário do projeto e não uma pequena parcela. Se você conseguiu encontrar um desenvolvedor logo no início, considere-se sortudo e não o perca! Tem muita Startup querendo pegar ele por ai! :-).
Desenvolvedores
Isso é muito relativo. Quanto mais novato é o desenvolvedor, menos apego com empreitadas ele costuma a ter. São profissionais que estão dispostos a se aventurar no projeto, sem um Tudo é novo, e as oportunidades batem a porta toda hora e quanto melhor ele vai ficando, mais agressivos e tentadores são estes chamamentos.
Os desenvolvedores mais experientes já possuem o desenvolvimento como fonte de renda. Já alocados em alguma empresa, ou então são freelancers, trabalhando e ganhando por hora. Este tipo de profissional investe em projetos quando enxergam uma possibilidade de crescimento profissional e novos desafios, desde que possa ter segurança financeira mínima. Então este profissional pensa 10 vezes antes de aceitar uma “sociedade” ou “parceria”, principalmente quando o “sócio” entra apenas com uma ideia na cabeça e um sorriso no rosto. Quem vai ficar semanas e mais semanas escrevendo sistemas é o programador.
Uma característica interessante dos empreendedores de hoje em dia, é que com o amadurecimento do ecossistema, muitos optaram em terceirizar o MVP e buscar um sócio-desenvolvedor em uma segunda etapa. Uma ideia já validada e que está precisando daquele pontapé para decolar atrai não só investidores quanto os desenvolvedores que tenham um perfil empreendedor. Se o empreendedor não-técnico conseguiu sair do zero e mesmo com todas as dificuldades, conduzir o projeto, imagina se possui um CTO para acelerar as coisas e trazer novas ideias e percepções tecnológicas?
O perfil do empreendedor que não possuí o mínimo de capital para investimento e está em busca de parcerias ou pessoas para abraçarem de forma espontânea para tocar o seu projeto é uma tarefa muito difícil. O cenário empreendedor brasileiro é desafiador e cheio de obstáculos, investir tempo e esperança em um projeto é coisa de guerreiro. Nem todo mundo tem a disposição para encarar estes desafios. Principalmente os desenvolvedores.
Minha recomendação para este perfil de empreendedor é validar a sua ideia com o mínimo possível, sem a necessidade de sistemas fantásticos e mostrar em números que o projeto pode dar certo, até mesmo para você convencer a outras pessoas a abraçarem seu projeto.
Uma Startup para decolar precisa de investimentos, se não houver investimento não é Startup.
Tendências
Hoje em dia, com salários beirando e até passando a casa dos R$ 10.000,00 dos Devs que realmente fazem a diferença, fica muito complicado para uma Startup iniciante montar um Dream Team. Uma das tendências é a busca de um profissional que tenha perfil mais arrojado, com capacidade de liderança de equipes, com experiência sênior e que já tenha passado por outras empreitadas para montar e gerenciar um time formado por profissionais menos experientes e que com o direcionamento certo, pode trazer bons resultados.
Os institutos de formação estão trabalhando massivamente na criação de conteúdo para tentar atender este demanda de profissionais ao mercado. com conteúdo direcionado as reais necessidades das empresas. Veremos um aumento de profissionais no mercado, mas sem muita experiência, o que demorará para causar um impacto nas vagas disponíveis principalmente nas Startups.
Empresas tecnológicas já estão se adequando para atender a demanda das empresas através da criação de um serviço chamado: “CTO ON DEMAND”, aonde especialistas ajudam os empreendedores em dificuldade a conduzir seus negócios, com um contrato mensal de serviço e de acordo com as necessidades.
Pré-aceleradoras e aceleradoras, especializadas em dar mentoria de negócios para as Startups tendem a criar um novo tipo de mentor, mais focado no auxílio da execução do projeto Startup, direcionamento das tendências tecnológicas do mercado, e ajudar projetos que estão encontrando dificuldades de avançar por causa da tecnologia. Este mentor-tecnológico tem que ser alguém com expertise avançada para trabalhar com tecnologias conflitantes e inversas, aproveitando a particularidade já embarcada de cada projeto. Será um desafio e tanto para estas iniciativas.
Conclusão
Nada substitui um time harmônico. Empreendedores e Desenvolvedores que pensam e trabalham para um objetivo comum. Embora tentemos criar soluções para superar as dificuldades, o sucesso de um projeto depende da capacidade das pessoas se superarem e transformar ideias em resultados.
Confira as duas matérias abaixo, para conhecer como está o mercado de Startups para desenvolvedores. As matérias são da Globo e da Band.
Vídeo do Jornal da Band: https://www.youtube.com/watch?v=Q_coNOkqMmI